segunda-feira, 10 de agosto de 2015

LUIZ GONZAGA, um gênio que fez o Brasil conhecer o Nordeste e seus costumes... PARTE 1



Luiz Gonzaga

Há cercas de dois meses estou lendo uma biografia sobre o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. O nome da biografia é A Vida do Viajante: A saga de Luiz Gonzaga, cuja autoria é da Francesa Dominique Dreyfus. Aqueles que escreveram sobre este nordestino nascido na Serra do Araripe, encravada no sertão pernambucano, afirmam que esta é a biografia mais completa sobre o nobre Rei do Baião. Luiz Gonzaga, embora nem todos saibam, foi um músico que sempre prezou pelo bem da sua região. Incompreendidos por muitos, ainda hoje é motivo de polêmica sua "veia política". O fato é que sua obra é vasta e deveria ser mais valorizada e respeitada.

De toda maneira, escrevo algumas poucas linhas tentando homenagear e divulgar este nordestino que fez o Brasil conhecer o Nordeste, com seus costumes, suas tradições e sua gente. 


Nesse sentido, farei estes relatos, baseados na
biografia acima em partes divididas. Em outro momento oportuno, apresentarei uma compilação onde estarão presentes uma série de matérias publicadas sobre esse gênio da nossa música popular brasileira.

 








A vida de Luiz Gonzaga do Nascimento é o que pode ser chamada de uma verdadeira saga! Digo logo, aqueles amantes da cultura nordestina e que valorizam suas raízes, deveriam ler um pouco mais sobre esse Pernambucano. Pobre, de origem extramente humilde, nasceu em 13 de dezembro de 1912 na fazenda da Caiçara, sendo o segundo filho de Januário dos Santos e de Ana Batista de Jesus, neto de José Moreira Franca de Alencar. Foi batizado na matriz de Exu no dia 05 de Janeiro e 1913. O padre José Fernandes de Medeiros, sugeriu chamar o menino Luiz por ter nascido no dia de Santa Luzia, Gonzaga, porque o nome completo de São Luiz era Gonzaga, e Nascimento porque dezembro é o mês do nascimento de Jesus. 


          Seu pais sempre trabalharam na roça. Com passar do tempo, esta tarefa passou a ser exclusividade de Santana, uma vez que Januário já começava a tocar em festas nas fazendas vizinhas, e quando em casa, se dedicava ao ofício de consertar acordeons e concertinas:

"Na casa de Januário, era Santana que cuidava da roça: cultivava feijão-de-corda, vagem, mandioca, macaxeira, batata doce, algodão. Uma parte ela vendia, outra era para alimentar a família. Santana também fiava varanda de rede, coxim pra forrar sela, e corda de caroá, que vendia na feira de Exu. No sábado, ela carregava tudo no lombo do jumento e saía de casa às cinco horas da manhã. Eram duas horas de caminhada para chegar a feira. Passava lá o dia, vendendo suas mercadorias, comprando mantimento para casa, e à noite regressava, exausta. Gonzaga lembrava que os meninos aguardavam o retorno da mãe, ansiosos por descobrir o que lhes trouxera da feira..."                                                                                                                                                                                                                                                 (página 34, Dominique Defrus, 1996)

 
"Ele não era só tocador, também consertava "fole", "pé de bode", "concertina" ou ainda harmônica", como chamam no sertão a sanfona de oito baixos. Hoje em dia, a palavra "sanfona", usada originalmente no Sul,  se popularizou no Nordeste, por influência de Luiz Gonzaga, que passou a empregá-la quando, vivendo no Rio de Janeiro, tornou-se famoso. Mas, naqueles anos, famoso era Januário, que atendia toda a região. Vinha gente de longe, trazendo sanfonas para Januário consertar, ou simplesmente afinar. Por menor que fosse a moradia da família, sempre havia um quarto reservado para Januário, com toda a tenda de conserto..."                                                                                                                                                                (página 34, Dominique Defrus, 1996)

Daí, seu o filho pequeno que sempre vivia dentro da “oficina” de tanto ver o mexer naquilo, começou a dar seus primeiros acordes... Embora tenha tentado o roçado, seus pais viram que o moleque não levava pra roça, seu talento mesmo era com os oito baixos:

"Januário percebeu que o filho tinha um dom para a música. Passou a chamá-lo para o conserto das sanfonas. Viu que o moleque tinha um bom ouvido. Formou-o, e o menino se tornou piloto de provas do pai: "Experimente aí Luiz, vê se a afinação tá boa...". Aos pouco Gonzaga ia aperfeiçoando sua técnica no fole. Até que Januário achou que o filho podia acompanhá-lo nos bailes. Santana relutou. Mas januário insistiu, implicou, brigou a passou a levá-lo consigo aos "sambas". Feliz, Gonzaga animava o baile com seu fole, revezando com Januário, até cair de sono...""
                                                                                                       (página 41, Dominique Defrus, 1996)


Gonzaga começa a acompanhar o pai em sua apresentações, mesmo contrário a posição de Santana, que inicialmente achava que tal ofício deveria ser tarefa para homem adulto... e não deu outra, o moleque pegou jeito, com cerca de 9 anos de idade já tocava com pai animando as festas naquela região. Toda essa História está bem apresentada ao público no Filme de Pai para Filho, https://pt.wikipedia.org/wiki/Gonzaga_-_de_Pai_pra_Filhoque. Este filme é também baseado na biografia feita pela Francesa. Esta se mudou para o Parque Asa Branca em Exu e conviveu com Luiz durante muito tempo, o acompanhando em suas apresentações e o entrevistando por diversas vezes.

Aquele episódio presente no filme em que o garoto Gonzaga tenta “matar” Seu Raimundo, pai de Nazarena, é verdadeiro e está registrado...

"... E Gonzaga, com seus 18 anos, já estavam pensando em noivar com Raimunda. Até que contaram a Gonzaga que seu Raimundo soubera do caso, e dissera que não admitia o namoro da filha com "sanfoneirozinho de nada, sem futuro"...""
"Pensei: "Eu pego ele!" Eu sabia que ele ia pra feira todo sábado. Eu também ia, com minha mãe, vender as cordas que a gente fazia lá no mato. Minha mãe trazia as cordas no jumento, depois comprava umas coisinhas para casa, e voltava no final da tarde. No sábado, quando nós chegamos, eu comprei uma faquinha mixuruca, escondi no bolso, tomei uma lapada de cana... e saí à procura de Seu Raimundo..."                                                                    (página 53, Dominique Defrus, 1996)

Num deu outra, Gonzaga ameaçou Seu Raimundo e Santana soube do ocorrido... O garoto chegando em casa depois do acontecido leva uma surra de sua mãe como nunca havia levado antes. De modo que o garoto depois da surra decidiu que fugiria de casa... Assim ele procurou o vaqueiro José de Elvira e juntos, os dois saíram rumo ao Crato, no Ceará. 

"Hoje, a bela estrada de asfalto que une Ouricuri, em Pernambuco, ao Crato, no Ceará, permite fazer o caminho em quarenta minutos. Mas, em 1930, era um caminhozinho de terra vagabundo, e a viagem era bem mais demorada. Anoiteceu quando Zé de Elvira e Gonzaga, com a sanfona nas costas e Nazarena no peito, atingiam a vertente  Cearense da serra do Araripe. Dormiram no mato, e, na segunda-feira de manhã, chegaram no Crato. Lá, se separaram. A idéia de Gonzaga era ir até Fortaleza para sentar praça. Apesar de Exu estar situado em Pernambuco, os exuenses são tradicionalmente muitos mais vinculados ao Ceará que fica bem mais próximo. Por isso Luiz Gonzaga foi para Fortaleza e não para o Recife, que só viria a conhecer no final dos anos 40. No Crato, Gonzaga vendeu a sanfona para conseguir o dinheiro da passagem de trem... e foi até a estação. Naquele dia, só havia trem cargueiro para Fortaleza:
- Conversei com o chefe do trem, e ele deixou que eu embarcasse. Ô viagem ruim! Sofri demais! "
                                                                                                      (página 57, Dominique Defrus, 1996)

Lá no meu pé de serra
Deixei ficar meu coração
Aí que saudade eu sinto
Quero voltar pro meu sertão
(No meu pé de serra, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).

A região do Araripe, embora seja no estado de Pernambucano, acaba ficando bem mais próxima de Fortaleza. Fato é, que muitos sertanejos desta região, acabando conhecendo primeiro a capital cearense, ao invés de Recife, no estado de Pernambuco.


O Sertão do Araripe é formado por dez municípios, tem mais de 11% da área do estado. Seu clima é o semi-árido, e a vegetação é predominantemente de xerófilas. Apenas na região da Chapada do Araripe o clima é diferenciado - ameno e com índices pluviométricos maiores. Na economia da microrregião, tem grande destaque a produção degesso - no Pólo Gesseiro do Araripe, que compreende os municípios de AraripinaIpubiTrindadeBodocó e Ouricuri. Neste pólo é produzido 95% do gesso consumido em todo o Brasil. A maioria do gesso retirado das jazidas do pólo gesseiro é tratado em Araripina, cidade mais desenvolvida, rica e importante da microrregião. A segunda cidade em mportância é Ouricuri, com posição estratégica na malha viária. http://melhoresdoararipe.blogspot.com.br/


Hélio Santa Rosa Costa Silva, Rio de Janeiro, 10 de Agosto de 2015.

heliosilva77@gmail.com





Nenhum comentário:

Postar um comentário