segunda-feira, 13 de abril de 2015

A Bandeira do Rio Grande do Norte e seu significado

















Lindo pendão do passado

Simbologia oficial remete a um lugar arcaico, de economia restrita e em busca de uma mitologia para ser


Por Adriano de Souza, Jornalista

           A identidade oficial potiguar começou a ser instituída na República velha. O brasão do estado foi criado em 1 de julho de 1909, por decreto do governador Alberto Maranhão. O desenho é do escultor Corbiniano Vilaça, a partir de elementos definidos pelo Instituto Histórico e Geográfico. O texto do decreto explica a simbologia escolhida:


“O brasão de armas do Estado do Rio Grande do Norte é um escudo de campo aberto, dividido a dois terços de altura, tendo no plano inferior o mar, onde navega uma jangada de pescadores, que representa as indústrias do sal e da pesca. No terço superior, em campo de prata, duas flores aos lados e ao centro dois capulhos de algodoeiro. Ladeiam o escudo, toda sua altura, um coqueiro à esquerda e uma carnaubeira à direita, tendo os troncos ligados por duas canas de açúcar, presas por um laço com as cores nacionais. Tantos os móveis do escudo como os emblemas, em cores naturais, representam a flora principal do Estado. Cobre o escudo uma estrela branca, simbolizando o Rio Grande Do Norte na União Brasileira.”


       A estrela é a lambda, da constelação de escorpião, que representa os estados nordestinos no lábaro estrelado da pátria. Ela em cima uma composição simbólica que espelha o arranjo de poder da época. O Brasão foi sancionado por Alberto Maranhão, rebento da aristocracia açucareira, identificado no desenho pelo feixe de canas que une o coqueiro (o litoral) e a carnaubeira (o sertão).

          Mas o quadro já reflete a emergência do algodão como tronco de poder, antecipando a hegemonia a se cristalizar a partir da década seguinte, com as lideranças políticas geradas no centro da nova economia (o Seridó). A troca de guarda se refletiria na própria simbologia institucional do estado, conforme se verá adiante.

        Os símbolos eleitos pelo IHG falam de um Rio Grande Norte Arcaico, confinado na moldura colonial. Um estado de economia pré-industrial, baseada no extrativismo e na exportação de matérias primas sem valor agregado. O poder é ocupado pelas elites do açúcar e do algodão, estribadas em grupos periféricos simbolizados no brasão pela extração do sal e da cera de carnaúba, elementos complementares no PIB potiguar de então.

       Além de ícones econômicos, o coqueiro e o jangadeiro cumprem outra função simbólica no brasão. Junto com o mar e o céu, eles compõem o conjunto idealizado desde que os primeiros cronistas botaram os olhos nas terras de João de Barros, e que ainda hoje, vende as terras potiguares para turistas: uma terra praieira, solar. Um paraíso tropical primitivo.


A Bandeira

          O arranjo de poder já era outro em 1957, quando foi criada a atual bandeira do RN, por decreto do governador Dinarte Mariz, em 3 de dezembro. Mas o modo de construção ideológica não mudara. Dinarte era produtor e comerciante de algodão. Recorreu a um grupo de notáveis, tutelados por Luís da Câmara Cascudo, para desenhar a bandeira.

          Cascudo fixou-se nas cores verdes e branca e sugeriu o desenho final: Um retângulo com duas faixas horizontais e o brasão sobre um escudo dourado ao centro. Uma alusão inconsciente (?) ao brasão da capitania, com uma ema e linhas que lembram ondas ou rios, tudo sobreposto a um fundo amarelo. Dinarte acatou o modelo cascudiano mas não deixou de realçar seus vínculos econômicos na simbologia oficial. No mesmo decreto, instituiu a flor do algodoeiro – presente no brasão em segundo plano – como emblema floral do Rio Grande do Norte.

         A conjunção do verde (esperança) e do branco (paz) se revelaria aziaga para Dinarte. Na eleição seguinte, em 1960, Aluízio Alves apropriou-se das cores da bandeira e da mística da esperança para derrotar o candidato dinartista (Djalma Marinho) ao governo, estabelecendo-se como antípoda do seridoense e iniciando uma dinastia política que perdura até hoje (a de Dinarte sumiu).


Fonte:
- Revista Perigo Iminente: Pensar se Potiguar, volume 2, páginas 73 e 74, Natal RN, Março de 2012. Revista Anual Publicada Pelas Edições Flor do Sal.

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