Lindo pendão do passado
Simbologia
oficial remete a um lugar arcaico, de economia restrita e em busca de
uma mitologia para ser
Por
Adriano de Souza, Jornalista
A
identidade oficial potiguar começou a ser instituída na República
velha. O brasão do estado foi criado em 1 de julho de 1909, por
decreto do governador Alberto Maranhão. O desenho é do escultor
Corbiniano Vilaça, a partir de elementos definidos pelo Instituto
Histórico e Geográfico. O texto do decreto explica a simbologia
escolhida:
“O
brasão de armas do Estado do Rio Grande do Norte é um escudo de
campo aberto, dividido a dois terços de altura, tendo no plano
inferior o mar, onde navega uma jangada de pescadores, que representa
as indústrias do sal e da pesca. No terço superior, em campo de
prata, duas flores aos lados e ao centro dois capulhos de algodoeiro.
Ladeiam o escudo, toda sua altura, um coqueiro à esquerda e uma
carnaubeira à direita, tendo os troncos ligados por duas canas de
açúcar, presas por um laço com as cores nacionais. Tantos os
móveis do escudo como os emblemas, em cores naturais, representam a
flora principal do Estado. Cobre o escudo uma estrela branca,
simbolizando o Rio Grande Do Norte na União Brasileira.”
A
estrela é a lambda, da constelação de escorpião, que representa
os estados nordestinos no lábaro estrelado da pátria. Ela em cima
uma composição simbólica que espelha o arranjo de poder da época.
O Brasão foi sancionado por Alberto Maranhão, rebento da
aristocracia açucareira, identificado no desenho pelo feixe de canas
que une o coqueiro (o litoral) e a carnaubeira (o sertão).
Mas
o quadro já reflete a emergência do algodão como tronco de poder,
antecipando a hegemonia a se cristalizar a partir da década
seguinte, com as lideranças políticas geradas no centro da nova
economia (o Seridó). A troca de guarda se refletiria na própria
simbologia institucional do estado, conforme se verá adiante.
Os
símbolos eleitos pelo IHG falam de um Rio Grande Norte Arcaico,
confinado na moldura colonial. Um estado de economia pré-industrial,
baseada no extrativismo e na exportação de matérias primas sem
valor agregado. O poder é ocupado pelas elites do açúcar e do
algodão, estribadas em grupos periféricos simbolizados no brasão
pela extração do sal e da cera de carnaúba, elementos
complementares no PIB potiguar de então.
Além
de ícones econômicos, o coqueiro e o jangadeiro cumprem outra
função simbólica no brasão. Junto com o mar e o céu, eles
compõem o conjunto idealizado desde que os primeiros cronistas
botaram os olhos nas terras de João de Barros, e que ainda hoje,
vende as terras potiguares para turistas: uma terra praieira, solar.
Um paraíso tropical primitivo.
A
Bandeira
O
arranjo de poder já era outro em 1957, quando foi criada a atual
bandeira do RN, por decreto do governador Dinarte Mariz, em 3 de
dezembro. Mas o modo de construção ideológica não mudara. Dinarte
era produtor e comerciante de algodão. Recorreu a um grupo de
notáveis, tutelados por Luís da Câmara Cascudo, para desenhar a
bandeira.
Cascudo
fixou-se nas cores verdes e branca e sugeriu o desenho final: Um
retângulo com duas faixas horizontais e o brasão sobre um escudo
dourado ao centro. Uma alusão inconsciente (?) ao brasão da
capitania, com uma ema e linhas que lembram ondas ou rios, tudo
sobreposto a um fundo amarelo. Dinarte acatou o modelo cascudiano mas
não deixou de realçar seus vínculos econômicos na simbologia
oficial. No mesmo decreto, instituiu a flor do algodoeiro –
presente no brasão em segundo plano – como emblema floral do Rio
Grande do Norte.
A
conjunção do verde (esperança) e do branco (paz) se revelaria
aziaga para Dinarte. Na eleição seguinte, em 1960, Aluízio Alves
apropriou-se das cores da bandeira e da mística da esperança para
derrotar o candidato dinartista (Djalma Marinho) ao governo,
estabelecendo-se como antípoda do seridoense e iniciando uma
dinastia política que perdura até hoje (a de Dinarte sumiu).
Fonte:
-
Revista Perigo Iminente: Pensar se Potiguar, volume 2, páginas
73 e 74, Natal RN, Março de 2012. Revista Anual Publicada Pelas
Edições Flor do Sal.
Parabéns muito interessante!
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