terça-feira, 12 de julho de 2016

Mestre Vitalino


Bom dia caros Leitores!


Ouvindo o cd de Petrúcio Amorim de 2004, Deus do Barro, me veio a inspiração para pesquisar um pouco sobre o Mestre Vitalino. Artista citado em todo cancioneiro nordestino, é considerado por muitos, como um dos maiores artesãos do Brasil. Percebam que muitas de suas esculturas, nós as conhecemos, e no entanto, se quer sabemos que as mesmas foram feitas pelas suas mãos... Aquele trio pé de serra, Os noivos em cima de um cavalo, o dentista arrancando o dente com cordão, a família de nordestino em retirada, o vaqueiro derrubando o gado na vaquejada são todas obras inicialmente criadas e imortalizadas pelas mãos do Mestre Vitalino. Nesse sentido, procurei algumas matérias que nos ensinam algo sobre este grande Artista Nordestino e Brasileiro.

Tenham todos uma boa leitura! 
Rio de janeiro, 12 de Julho de 2016
Hélio Santa Rosa Costa Silva
Mestre Vitalino, Caruaru, Pernambuco, 1947. Foto: PIERRE VERGER






Mestre Vitalino
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Quando pequeno, [criança], suas obras eram feitas de barro, que sobravam de sua mãe.
Mestre Vitalino
Nascimento10 de julho de 1909
Nacionalidade brasileiro(a)
Ocupaçãoartesão ceramista
Vitalino Pereira dos Santos, conhecido como Mestre Vitalino (Caruaru10 de julho de 1909  — Caruaru20 de janeiro de 1963), foi um artesão.
Filho de lavrador e de uma artesã que fazia panelas de barro. Aprendeu o ofício com a mãe e usou os restos do barro para fazer pequenos animais e vende-los na feira.
retratar em seus bonecos de barro a cultura e o folclore do povo nordestino, especialmente do interior de Pernambuco e da tradução do modo de vida dos sertanejos[1] . Esta retratação ficou conhecida entre especialistas como arte figurativa.
O artista passou a desenvolver a modelagem no barro a partir dos oito anos de idade, os bonecos que criava eram seus brinquedos.[2] As obras de Vitalino ganharam reconhecimento na região Sudeste a partir de 1947, quando o artista plástico Augusto Rodrigues o convidou para a Exposição de Cerâmica Popular Pernambucana, realizada no Rio de Janeiro. Em janeiro de 1949, a fama foi ampliada com exposição no Masp[1] . Em 1955, integrou em NeuchâtelSuíça, a exposição Arte Primitiva e Moderna Brasileiras.[3]
O reconhecimento do artista foi ampliado após a sua morte....
A biografia do artista inspirou o samba-enredo da Império da Tijuca nos carnavais de 1977 e 2012. A Festa de São João de Caruaru o adotou como a personalidade homenageada de 2023..[4]
Suas obras mais famosas são VioleiroO enterro na redeCavalo-marinhoCasal no boiNoivos a cavaloCaçador de onça e Família lavrando a terra.[1]
A produção do artista passou a ser iconográfica[5] e inspirou a formação de novas gerações de artistas, especialmente no Alto do Moura, bairro de Caruaru, onde viveu. A casa onde viveu parte de sua vida atualmente é a instalação da Casa Museu Mestre Vitalino. O entorno é ocupado por oficinas de artesãos[6] .
Parte de sua obra pode ser contemplada no Museu do Louvre, em Paris, na França. No Brasil, a maior parte está nos museus Casa do Pontal e Chácara do Céu, Rio de Janeiro E JOAQUIN; no Acervo Museológico daUniversidade Federal de Pernambuco, em Recife; e no Alto do Moura.[1] [5] [7]



Mestre Vitalino

Este blog será inaugurado com uma homenagem ao maior de todos os mestres da arte popular brasileira que em 2009 completaria 100 anos de vida, o mestre Vitalino.

Mestre Vitalino, Caruaru, Pernambuco, 1947. Foto: PIERRE VERGER

Vitalino Pereira dos Santos foi um homem despretencioso sobre o futuro sua arte. Ele nasceu no dia 10 de julho de 1909 no distrito de Ribeira dos Campos, nas cercanias da cidade de Caruaru, Pernambuco. Sua história com o barro começou cedo, tinha apenas 6 anos de idade; aprendeu com sua mãe, Dona Josefa, que além de lavradora era louceira. Vitalino aproveitava as sobras do barro utilizado por sua mãe na fabricação de pratos, tijelas, panelas e potes. No começo fazia pequenos animais, como bois e cavalos que os irmãos levavam para vender na feira. Com o tempo, o mestre passou a aprimorar sua técnica e começou a retratar várias cenas do cotidiano da região. Os especialistas da obra de Vitalino contabilizam mais de 130 temas retratados pelo mestre.

Sua vida foi como a de muitos nordestinos: pobre, não frequentou a escola porque tinha que ajudar seus pais na lavoura. Fisicamente também não se distinguia muito dos demais homens da região: baixo e franzino, cor parda, pele aspera e queimada do sol. Casou-se aos 22 anos de idade com Joana Maria da Conceição, a Joaninha, com que teve 16 filhos, dos quais apenas 6 sobreviveram. Após 17 anos de casamento deixou o sítio Campos e se mudou para o Alto do Moura, comunidade localizada a 7 Km de Caruaru, onde passou o resto de sua vida. No Alto do Moura sua obra passou a ter mais destaque, ele era muito admirado pelos demais moradores do lugar. Todos queriam ver de perto seu trabalho e aprender com o mestre.

Na decada de 40 as obras do Mestre Vitalino ganharam grande notoriedade na região Sudeste a partir de uma Exposição de Cerâmica Popular Pernambucana, organizada por Augusto Rodrigues no Rio de Janeiro  em 1947. Depois em Sao Paulo expôs no Museu de Arte de São Paulo - MASP em 1949. Depois disso, a obra de Vitalino caiu no gosto das elites e virou noticia na imprensa nacional; isso fez com que a feira de Caruaru, local onde o mestre comercializava suas peças, tornasse uma atração turística.  Em 1960, Vitalino fez sua primeira viagem de avião para o Rio de Jeneiro. Durante os 15 dias que permaneceu na cidade, compareceu a jantares, exposições, entrevistas e programas de televisão. Essa seria a época do apogeu da obra de Vitalino, do qual ele parecia não ter muita consciencia. Como prova disso está o fato do mestre só ter passado a assinar suas peças depois de ter sido aconselhado por Abelardo Rodrigues, pois um dia aquele trabalho poderia valer muito. Depois da viagem ao Rio, vieram outras como a Brasília e de São Paulo. Vitalino ganhava o Brasil e o mundo, mas infelizmente seu tempo de vida a partir desta época foi muito curto. Vitalino morreu em 1963, aos 57 anos, vítima de varíola, do descaso e da falta de conhecimento.

Como ocorre na maioria dos casos, o reconhecimento da obra do Mestre Vitalino ganhou ainda mais importancia e notoriedade após a sua morte. Suas obras mais famosas são o Violeiro, o Boi, o Trio pé de serra, o Enterro na rede,o Cavalo-marinho, o Casal no boi, os Noivos a cavalo, o Caçador de onça, aFamília lavrando a terra, Lampião e Maria Bonita, dentre outras.

 Mestre Vitalino modelando o barro, Caruaru, Pernambuco, 1947. Foto: PIERRE VERGER

 Mestre Vitalino comercializando suas peças na feira de Caruaru, Pernambuco, 1947. Foto: PIERRE VERGER

A produção do artista passou a ser iconográfica e inspirou a formação de várias gerações de artistas, especialmente no Alto do Moura em Caruaru. Nesta geração de artistas populares do Alto do Moura influenciados pelo mestre destacam-se nomes como: Manuel Eudócio (Mestre Eudócio), Severino Vitalino (filho do mestre), Elias Vitalino (neto do mestre), Marliete Rodrigues, Socorro Rodrigues, Seu Elias e vários outros.
Mestre Vitalino, Noivos, ceramica policromada, Reprodução fotográfica Soraia Carls/ Evandro Carneiro Leiloes.

Mestre Vitalino, Homem tirando leite, ceramica, Reprodução fotográfica autoria desconhecida

 Mestre Vitalino, Noivos a cavalo, cerâmica policromada, Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Mestre Vitalino, Violeiros, cerâmica policromada. Acervo do Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro-RJ. Foto: autoria desconhecida

 Mestre Vitalino, Onça atacando, cerâmica policromada, Reprodução fotográfica Soraia Carls/ Evandro Carneiro Leiloes.

 Mestre Vitalino, Cambiteiro, cerâmica. Acervo do Museu do Homem do Nordeste, Recife-PE. Foto: arquivo pessoal.
Mestre Vitalino, Boi, cerâmica policromada. Acervo do Museu de Arte Popular do Recife. Foto: autoria desconhecida.

Mestre Vitalino, Boi, cerâmica. Acervo do Museu de Arte Popular do Recife. Foto: autoria desconhecida.

 Mestre Vitalino, Cangaceiro a cavalo, cerâmica. Acervo do Museu de Arte Popular do Recife. Foto: autoria desconhecida.

Parte de sua obra pode ser contemplada em importantes museus, alguns dedicados à arte popular, como o Museu de Arte Popular do Recife (Recife), Museu Casa do Pontal (Rio de Janeiro) e o Museu do Folclore Edison Carneiro (Rio de Janeiro). Vitalino possui ainda obras expostas no Museu do Homem do Nordeste (Recife), Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro) e no Museu do Louvre (Paris, França). Entretanto, a maior parte de suas obras faz parte de coleções particulares. As obras de Vitalino alcançou ao longo dos anos um elevado valor econômico e ainda sao comercializadas em alguns leiloes de arte pelo Brasil.

 Mestre Vitalino, Cangaceiro, cerâmica policromada, Reprodução fotográfica Soraia Carls/ Evandro Carneiro Leiloes.

Mestre Vitalino, boi, cerâmica. Acervo Museu de Arte Popular do Recife. Foto autoria desconhecida

Mestre VitalinoCachorro abocanhando um teju, cerâmica policromada, acervo Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro

 Mestre Vitalino, Carro de boi, cerâmica. Acervo do Museu do Homem do Nordeste, Recife-PE. Foto: arquivo pessoal.

 Mestre Vitalino, vaquejada, cerâmica. Acervo Museu de Arte Popular do Recife. Foto autoria desconhecida

Mestre Vitalino, Lampiao, cerâmica policromada, acervo Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro.

 Mestre Vitalino, Tropeiro, cerâmica. Acervo do Museu do Homem do Nordeste, Recife-PE. Foto: arquivo pessoal.

 Mestre Vitalino, Banda de Músicos, ceramica policromada, Reprodução fotográfica Soraia Carls/ Evandro Carneiro Leiloes.

  Mestre Vitalino, boi, cerâmica. Acervo Museu de Arte Popular do Recife. Foto autoria desconhecida

Mestre Vitalino, Emboscada, ceramica policromada, Reprodução fotográfica Soraia Carls/ Evandro Carneiro Leiloes. 

  Mestre Vitalino, retirantes, cerâmica. Acervo Museu de Arte Popular do Recife. Foto autoria desconhecida

 Mestre Vitalino, vaquejada, cerâmica. Acervo Museu de Arte Popular do Recife. Foto autoria desconhecida

Mestre Vitalino, Caçador com seu cachorro, ceramica policromada, Reprodução fotográfica Soraia Carls/ Evandro Carneiro Leiloes. 

 Mestre Vitalino, vaquejada, cerâmica. Acervo Museu de Arte Popular do Recife. Foto autoria desconhecida.

 Mestre Vitalino, Caldeira, cerâmica. Acervo do Museu do Homem do Nordeste, Recife-PE. Foto: arquivo pessoal.


Mestre Vitalino, Confissao, ceramica policromada, Reprodução fotográfica Soraia Carls/ Evandro Carneiro Leiloes.

Mestre Vitalino, Cangaceiro a cavalo, cerâmica policromada. Acervo do Museu do Barro - Espaço Zé Caboclo, Caruaru, PE.

Mestre Vitalino, Noivos a cavalo, cerâmica, Reprodução fotográfica Lordello & Giobbi Leilões.  

Video - Documentario Mestre Vitalino



Mestre Vitalino

Em 1909, nasce Vitalino Pereira dos Santos, na pequena vila de Ribeira dos Santos, próximo a Caruaru, (PE). Criado em ambiente oleiro, cedo começa a modelar boizinhos, louças em miniatura e outros brinquedos, para serem vendidos na feira local. Dotado de forte senso estético, produz obras que, na maturidade, atraem a atenção de críticos e colecionadores de arte. Em 1947, por iniciativa do pintor Augusto Rodrigues, de quem se torna amigo, tem algumas esculturas expostas no Rio de Janeiro, com sucesso. Esta exposição é hoje considerada um marco na história do interesse pela arte popular, não só por revelar ao grande público a obra de Vitalino, como também por chamar a atenção sobre a existência desse gênero de criação em diferentes regiões do país. É reconhecido como Mestre por sua virtuose e pela liderança que exerceu entre os ceramistas do Alto do Moura. Entre 1960 e a data de sua morte, em 1963, viajou por todo o Brasil, participando de exposições e mostrando sua técnica. Apesar de ter se tornado famoso, faleceu aos 53 anos, muito pobre, vítima de doença contagiosa. Sua memória continuou a ser cultivada depois da morte, não só pelo público em geral como pela família e os amigos, muitos dos quais ajudou a formar. Salvo Maria José, os filhos – Amaro, Manuel, Severino, Antônio (falecido) e Mariquinha – seguiram-no na profissão. Mestre Vitalino criou uma narrativa visual expressiva sobre a vida no campo e nas vilas do nordeste pernambucano. Realizou esculturas antológicas, como "o enterro na rede"; "cavalo marinho"; "casal no boi" e muitas outras, de poética irretocável.

Mestre Vitalino - a arte feita de barro


Mestre Vitalino - foto: Pierre Verger - Caruaru/PE, 1947
[Acervo Fundação Pierre Verger - fonte: blog estadão]
“Eu via fazê uma procissão no mato – fazê a novena, botá os santo no andô, saí o povo com o zabumba…Eu estudei aquilo e botava no barro…”
- Mestre Vitalino, em 'depoimento' a René Ribeiro, da Fundação Joaquim Nabuco.


Vitalino Pereira dos Santos (Ribeira dos Campos, Caruaru PE, 10 de julho de1909 - Alto do Moura, Caruaru, 20 de janeiro de 1963). Ceramista popular e músico. Filho de lavradores, ainda criança começa a modelar pequenos animais com as sobras do barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos, para serem vendidos na feira de Caruaru. Ele cria, na década de 1920, a banda Zabumba Vitalino, da qual é o tocador de pífano principal. Muda-se para o povoado Alto do Moura, para ficar mais próximo ao centro de Caruaru.
Sua atividade como ceramista permanece desconhecida do grande público até 1947, quando o desenhista e educador Augusto Rodrigues (1913 - 1993) organiza no Rio de Janeiro a 1ª Exposição de Cerâmica Pernambucana, com diversas obras suas. Segue-se uma série de eventos que contribuem para torná-lo conhecido nacionalmente e são publicadas diversas reportagens sobre o artista, como a editada pelo Jornal de Letras em 1953, com textos de José Condé, e na Revista Esso, em 1959.
Em 1955, integra a exposição Arte Primitiva e Moderna Brasileiras, em Neuchatel, Suíça. O Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais e a Prefeitura de Caruaru editam o livro Vitalino, com texto do antropólogo René Ribeiro e fotografias de Marcel Gautherot (1910 - 1996) e Cecil Ayres. Nessa época, conhece Abelardo Rodrigues, arquiteto e colecionador, que forma um significativo acervo de peças do artista, mais tarde doadas para o Museu de Arte Popular, atual Museu do Barro de Caruaru.
 Casa-Museu Mestre Vitalino, foto: Daniel Fama, Jan/2010.
Mestre Vitalino, em 1960, realiza viagem ao Rio de Janeiro e participa da Noite de Caruaru, organizada por intelectuais como os irmãos João Condé e José Condé, ocasião em que suas peças são leiloadas em benefício da construção do Museu de Arte Popular de Caruaru. Participa de programas de televisão e exibições musicais, comparece a eventos e recebe diversas homenagens, como Medalha Sílvio Romero. Nessa ocasião, a Rádio MEC realiza a gravação de seis músicas da banda de Vitalino, lançadas em disco pela Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro na década de 1970. Em 1961, atendendo a pedido da Prefeitura de Caruaru, doa cerca de 250 peças ao Museu de Arte Popular, inaugurado nesse ano.
Em 1971, é inaugurada no Alto do Moura, no local onde o artista residiu, a Casa Museu Mestre Vitalino. No espaço, administrado pela família, estão expostas suas principais obras, além de objetos de uso pessoal, ferramentas de trabalho e o rústico forno a lenha em que fazia suas queimas.
COMENTÁRIO CRÍTICO
Mestre Vitalino se notabiliza por suas figuras inspiradas nas crenças populares, em cenas do universo rural e urbano, no cotidiano, nos rituais e no imaginário da população do sertão nordestino brasileiro. Ainda criança, começa a modelar pequenos animais de seu repertório rural: boi, bode, burro e cavalo. Na década de 1930, possivelmente influenciado pelos conflitos armados do período, modela seus primeiros grupos, formados por figuras de cangaceiros, soldados, bacharéis e políticos. No início, a cor é obtida por meio de argilas de diferentes tons, avermelhado e branco. Depois, Vitalino pinta os bonecos com tintas industriais, o que lhes confere um aspecto alegre e lúdico. A partir de 1953, deixa de pintar as figuras, mantendo-as na cor da argila queimada.
"Vitalino, o Menino que virou Mestre"
pelo cartunista Sill
Sem se preocupar com a concorrência, não se incomoda que outros artesãos observem seu trabalho, imitem sua técnica e suas inovações de motivos. Vitalino deixa vários discípulos, como Zé Rodrigues e Zé Caboclo, além de filhos e netos, que seguem produzindo trabalhos de cerâmica com o mesmo repertório temático e o vocabulário formal criado por ele. Boa parte de seus trabalhos se refere aos três principais ritos de passagem: nascimento, casamento e morte. As cenas de batizados são como crônicas do cenário rural. O tema do casamento aparece com freqüência, em trabalhos como Casamento no Mato, O Noivo e a Noiva. Os enterros também são composições reveladoras dos hábitos e do cotidiano da região. Comparando Enterro na Rede, Enterro no Carro de Boi e Enterro no Caixão, por exemplo, pode-se perceber a diferença de status dos mortos de acordo com o modo como são transportados. Somam-se a esses trabalhos as diversas procissões criadas pelo artista, bem como as cenas que remetem a aspectos do imaginário popular, como em A Luta do Homem com o Lobisome (sic), O Vaqueiro que Virou Cachorro e Diabo Atentando o Bêbado.
As cenas que remetem à ordem e ao crime no sertão brasileiro são recorrentes em sua produção. Entre bandidos e soldados, policiais, ladrões de cabra e de galinha, destacam-se as figuras dos cangaceiros Lampião, Maria Bonita e Corisco. Os aspectos sociais da região, como a seca e a migração, são captados em obras como Retirantes. Bastante freqüentes são as figuras e cenas ligadas ao trabalho, que permitem notar a divisão entre atividades laborais e tipos masculinos - vaqueiros, lavradores, homens carregando água ou tirando leite - e femininos - lavadeiras, rendeiras, mulheres cozinhando e costurando. As profissões do contexto urbano, como dentista, médico, veterinário, barbeiro, costureira, vendedor de fumo de rolo, também são modeladas por Vitalino, em parte para atender às demandas do mercado. Vale mencionar os trabalhos em forma de animais, como boi, burro, cavalo, cachorro, onça, modelados pelo artista no decorrer de sua carreira; a série em que ele compõe cenas de si próprio trabalhando, como em Vitalino Cavando Barro, Vitalino Queimando a Loiça e Vitalino e Manuel Carregando a Loiça; e sua produção de ex-votos.
Mestre Vitalino, desenho de Adriano Freire
Segundo a pesquisadora Lélia Coelho Frota, autora de livro sobre o artista, Vitalino representa um agente-chave de transformação na região. Pelo reconhecimento artístico alcançado por mestres como ele e o sucesso comercial da cerâmica no mercado nacional, a partir de sua geração, famílias inteiras se ocupam desse ofício na comunidade de Alto do Moura, em Caruaru. E transforma o povoado em referência nacional na produção de cerâmica, concentrando cerca de 200 artesãos, considerado pela Unesco um dos mais importantes centros de arte figurativa das Américas. Nesse processo, Vitalino é o principal agente de renovação visual, criando diversos motivos, e dono de um estilo pessoal marcante, que se revela na expressividade das feições e gestos e posturas corporais, na composição teatralizada das cenas. Embora todos esses aspectos de sua arte justifiquem a notoriedade alcançada por Vitalino, em certa medida seu sucesso está relacionado a uma tendência cultural mais ampla de valorização dos traços populares, considerados originais e exemplos de brasilidade. Inegavelmente sua produção é interpretada como representativa dessas manifestações "autênticas" e "simples" que muitos intelectuais e artistas, na primeira metade do século XX, elegem como modelo.
Fonte: Enciclopédia de Artes Visuais/Itaú Cultural


“Eu, além de analfabeto, criei-me trancado vivo, (...) cismado que só saguim criado no meio do mato.”
- Mestre Vitalino, em 'depoimento' a René Ribeiro, da Fundação Joaquim Nabuco.

Mestre Vitalino e a família [foto autoria desconhecida]

CRONOLOGIA DO MESTRE VITALINO
1909 – Nasce em 10 de julho, no Sítio Campos - Caruaru/ PE.
1915 - Realiza, aos seis anos de idade, o seu primeiro boneco de barro: um gato maracajá trepado numa árvore, acuado por um cachorro e um caçador fazendo pontaria.
Mestre Vitalino, por Emerson Fialho
1924 - Passa a tocar pífanos e cria sua banda, composta por quatro músicos.
1948 – Muda-se para Alto do Moura – Caruaru/PE.
1960 - Participa, na residência do industrial Drault Hermanny, no Rio de Janeiro, a 29 de outubro, de uma Noite de Caruaru, durante a qual 37 dos seus bonecos são leiloados. Destina a renda para a construção do Museu de Arte Popular de Caruaru.
03/11/1960 - Recebe do Governo da Guanabara a "Medalha Sílvio Romero", atribuída aqueles que contribuem para a divulgação do folclore nacional. Ao agradecer a honraria, diz: "Viva Deus, viva a mãe de Deus e viva quem me deu essa medalha". Nesse mesmo dia, inaugura a Exposição de Arte Popular, promovida pela Escolinha de Arte do Brasil e na ocasião é homenageado.
05/11/1960 - Recebe homenagem de Leopold Arnaud, adido cultural dos Estados Unidos no Rio de janeiro.
1960 – Em Novembro, Vitalino viaja ao Rio de Janeiro, para participar de uma "Noite de Caruaru", organizada por intelectuais como os irmãos Condé, e levou junto a sua banda. O objetivo da festa era uma exposição de arte, mas a banda agradou tanto que acabou gravando, nos estúdios da Rádio MEC, seis músicas que em 1975, já depois de sua morte, fariam parte do disco "Vitalino e Sua Zabumba" lançado pela Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro. 
1961 - A embaixada do Brasil em Lima, Peru, realiza uma exposição das peças do mestre Vitalino.
16/11/1961 - Doa 250 peças de sua autoria ao Museu de Arte Popular de Caruaru.
1960/1963 - Brasil - Viaja por todo o país, participando de exposições e mostrando sua técnica.
1963 – Morre pobre, no dia 20 de janeiro, vítima de varíola, em Caruaru/PE.



Mestre Vitalino - foto: Pierre Verger - Caruaru/PE, 1947
[Acervo Fundação Pierre Verger - fonte: blog estadão]

ACERVOS DA OBRA DO MESTRE VITALINO
Casa Museu Mestre Vitalino - Alto do Moura/PE
Museu Casa do Pontal - Rio de Janeiro/RJ
Museu de Folclore Edison Carneiro - Funarte - Rio de Janeiro/RJ
Museu do Barro de Caruaru – Caruaru/PE
Museu do Homem do Nordeste - Fundação Joaquim Nabuco - Recife PE
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museu Theo Brandão - Universidade Federal de Alagoas - UFAL – Maceió/AL
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC - Rio de Janeiro/RJ
Museu do Louvre - Paris/França
Coleções particulares – (sendo que a maior parte de suas obras faz parte de coleções particulares).


“Ele não capta somente o seu mundo e o transporta ao barro. Ele veicula, pela intencionalidade das suas composições, pelo efeito de certos artifícios de atitude e de exagero de peculiaridades, ou ainda através do conteúdo de suas histórias, os valores desse mundo – estéticos, econômicos, sociais, morais, religiosos.”
- René Ribeiro (antropólogo), em "Vitalino – um Ceramista Popular do Nordeste", Fundação Joaquim Nabuco, 1972.


Mestre Vitalino


EXPOSIÇÕES DA OBRA DO MESTRE VITALINO
Exposições Coletivas
1947 - Rio de Janeiro/RJ - Exposição de Cerâmica Popular Pernambucana, [organizada, por Augusto Rodrigues].
1949 - São Paulo/SP - Coletiva, no MASP.
1954 - Goiânia/GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais.
1955 - Neuchatel/Suíça - Arte Primitiva e Moderna Brasileiras (integra a exposição).


Exposições Póstumas
Mestre Vitalino
1984 - São Paulo/SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, Fundação Bienal.
1992 - Zurique/Suíça - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, Kunsthaus Zürich
1993 - Rio de Janeiro/RJ - Mestre Vitalino, Centro Cultural Banco do Brasil
1995 - Rio de Janeiro/RJ - Mestre Vitalino - 80 anos de arte popular. Museu Nacional de Belas Artes.
2006 - São Paulo/SP - Viva Cultura Viva do Povo Brasileiro, Museu Afro-Brasil.
2009 - Caruaru/PE - 100 olhares de Vitalino.  Galpão das Artes, antiga estação ferroviária.
2009-2010 - Rio de Janeiro/RJ - A Arte do Barro e o Olhar da Arte Vitalino e VergerMuseu Casa do Pontal. [12/12/2009 a 12/08/2010 - comemoração dos 100 anos de Vitalino].
2010 - São Paulo/SP - Mestre Vitalino: a terra e o imaginário. Galeria de Artes do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus da Barra Funda na capital paulista.
2011 - Brasília DF - O Brasil na Arte Popular - Acervo Museu Casa do Pontal, Museu Nacional de Brasília.


“Estudei um dia de fazer uma peça… Peguei um pedacinho de barro e fiz uma tabuleta; do mesmo barro peguei uma talisca e botei em pé, assim; botei três maracanãs (onças) naquele pé de pau, o cachorrinho acuado com os maracanãs e o caçador fazendo ponto nos maracanã pra atirar”
- Mestre Vitalino, em 'depoimento' a René Ribeiro, da Fundação Joaquim Nabuco.


OBRAS DO MESTRE VITALINO
[Seleção de obras]

"Vitalino criou uma narrativa visual expressiva sobre a vida no campo e nas vilas do interior pernambucano. Fez esculturas antológicas, como “Violeiros”, “O enterro na rede”, “Cavalo-marinho”, “Casal no boi”, “Noivos a cavalo”, “Caçador de onça”, “Família lavrando a terra”, entre outras"
- Angela Mascelani


Boi (cerâmica), Mestre Vitalino -  Foto autoria desconhecida
[Acervo do Museu de Arte Popular do Recife/PE]

Retirantes, (cerâmica), Mestre Vitalino -  Foto autoria desconhecida
[Acervo do Museu de Arte Popular do Recife/PE]


Vaquejada (cerâmica), Mestre Vitalino -  Foto autoria desconhecida
[Acervo do Museu de Arte Popular do Recife/PE]


Noivos a cavalo (cerâmica), Mestre Vitalino -  Foto autoria desconhecida
[Acervo do Museu de Arte Popular do Recife/PE]


Cangaceiro (cerâmica), Mestre Vitalino -  Foto autoria desconhecida
[Acervo do Museu de Arte Popular do Recife/PE]

Violeiros (cerâmica policromada), Mestre Vitalino. Foto autoria desconhecida
[Acervo do Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro/RJ]


Cangaceiro a cavalo (cerâmica policromada), Mestre Vitalino
[Acervo do Museu do Barro - Espaço Zé Caboclo, Caruaru, PE]

Lampião (cerâmica policromada), Mestre Vitalino
[Acervo Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro/RJ]

Retirantes (cerâmica policromada), Mestre Vitalino [déc. 1960]
Reprodução fotográfica Anibal Sciarretta


Casa de Farinha (cerâmica policromada), Mestre Vitalino [s.d.]
 Reprodução fotográfica Anibal Sciarretta
[Acervo Museu do Homem do Nordeste, Recife/PE]


MESTRE VITALINO E A MÚSICA
Dono de um grande talento musical, aprendeu a tocar pífano (espécie de flauta sem claves e com 7 furos) e com apenas 15 anos montou sua própria banda, a Zabumba Vitalino.

"Eu aprendi tocar pela cadência, tirando tudo do juízo"
- Mestre Vitalino
Mestre Vitalino e a Zabumba de Mestre Vicente[foto autoria desconhecida]

DOCUMENTÁRIOS

Filme:  O mundo de Mestre Vitalino
Diretor: Armando Laroche
Ano: 1953


Filme: Adão foi feito de barro
Diretor: Fernando Spencer
Ano: 1976


Filme: Vitalino, Lampião
Diretor: Geraldo Sarno
Ano: 1977



Filme: Mestre Vitalino e nós no barro
Sinopse: Tributo ao Mestre Vitalino
Direção: 150 alunos da rede municipal de ensino de fundamental de Vitória/ES 
Roteiro: Alunos da Rede Municipal de Vitória
Duração: 10 min
Ano: 2008
Cidade: Vitória/ES - Brasil
Gênero: Animação
Cor: Colorido
Empresa Produtora: Instituto Marlin Azul/Projeto Animação



egunda-feira, 10 de janeiro de 2011


O DEUS DO BARRO

Uma tarde de conversa na casa de Mãe Silícia, ao som de músicas de Petrúcio Amorim e em volta do mesmo café com pão e ovo frito. A música, "Deus do Barro", homenageava o saudoso artesão de Caruaru, Vitalino, e os seus internacionalmente conhecidos bonecos de barro. Nossa imaginação e nossa fala se moviam no ritmo do forró e nas possibilidades de sentido trazidas por essa música especial. De modo criativo, o compositor associa a criação do Mestre Vitalino às narrativas bíblicas da criação, com extremada sensibilidade.

Quando Deus fez o homem e sua semelhança
Foi amassando o barro com a mão.
Deu um sopro de vida de esperança,
Espalhou pelo mundo a criação.

Pra fazer com amor é preciso fé
Da mistura da lama saber tirar
A imagem de toda Maria e todo Zé
Tudo aquilo que a terra pudesse dar

– “Todo mundo é isso, filho – sopro de Deus sujo de lama. Mas quando Deus sopra, a lama não é mais lama”.

Lembrei do mito órfico, de que somos feitos de terra e de céu, ou filhos da terra e do céu estrelado, como diziam os antigos. Mas também lembrei que vidro é exatamente isso, areia soprada a altas temperaturas, e as belíssimas esculturas que os artesãos do vidro conseguem produzir. Homens e mulheres somos e vivemos o paradoxo, a mistura, a contradição entre o possível e o impossível, entre o frágil e o forte, entre o finito e o infinito. A nossa beleza e grandeza consiste exatamente nisso.

Na construção do poeta, somos “sopro de vida de esperança” espalhados pelo mundo, criados com amor e fé. Nos relatos bíblicos, lama transformada em imagem de Deus, definidas nas imagens concretas de “toda Maria e todo Zé”. Como imagens do criador, somos também chamados a criar, da mesma maneira que o mestre Vitalino. Criando os seus bonecos, Vitalino torna-se símbolo de um Deus que cria com sabedoria, capaz também de tirar beleza e grandeza do barro.

Ficamos conversando e pensando nessas conversas em que vamos também nos criando conjuntamente, processo educativo em que a nossa imagem é desafiada a crescimento constante na busca incessante dessa imago dei, a qual na concepção de Jung é essa imagem de nós mesmo em plenitude de sabedoria. Criamos a nós mesmos e criamos o outro, tríade educativa de amor, esperança e fé, lembrada por Paulo Freire. Amar as pessoas, esperar por suas transformações e libertação e crer em seu potencial e na força do diálogo e da comunhão. Assim, juntos nos arriscarmos à criação artesanal de uma nova humanidade.

O boneco do Mestre Vitalino
É grandeza por ter simplicidade
Com o barro ele fez o seu destino
Pelo barro ganhou eternidade.

Amassa com a mão, a massa.
Um boneco, uma banda de pife,
um dentista, um cavalo, um boi de carro.
Amassa com a mão, a massa.
Se Deus é um vitalino
Vitalino é o Deus do barro.

A grandeza da criação se alcança pela simplicidade do barro. O que é preciso é pôr a mão na massa, sujar as mãos com a lama para que a beleza surja em sua plenitude. Destino de criador é sujar as mãos com o barro e isso é seu caminho de eternidade.

A criação aparece na vitalidade do diverso, “um boneco, uma banda de pife, um dentista, um cavalo, um boi de carro”. As possibilidades da criação são infinitas e precisamos aprender a celebrar “tudo aquilo que a terra pudesse dar”. Criar, enquanto participantes do processo educativo, não é limitar, mas respeitar a multiplicidade de formas da vida e celebrá-la. É preciso pôr a mão na massa e deixar que o próprio barro vá escolhendo os seus caminhos e suas formas.

O poeta do forró, Petrúcio Amorim, termina na ousadia belíssima da comparação entre Deus e Vitalino. Deus é um vitalino, sábio ancião, ancestral que reúne toda a sabedoria acumulada pelos séculos. Mãe Silícia é um símbolo dessa sabedoria criativa capaz de permitir que a vida siga cursos inesperados e encontre caminhos inusitados de simplicidade, grandeza e beleza.

Vitalino, na lógica poética, é o Deus do barro, aquele que encontrou todo o potencial divino de transformar barro em grandeza, desenhos da vida que vão se espalhando pelo mundo todo, transmitindo a esperança na capacidade humana de encontrar caminhos do viver. Ele nos comunica a certeza das possibilidades do barro e nos convida a sujar as mãos com a lama criativa e criadora capaz de produzir uma humanidade mais digna e mais bela.


A Música e Petrúcio Cantando...

https://www.youtube.com/watch?v=g8qZqetKC5E




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