Bom tarde Caros Leitores!
Nosso
espaço hoje homenageia um grande artista Potiguar. O seridoense
Elino Julião! Autor de músicas como Rabo do Jumento,
Forró na Coréia, Cara de durão, dentre outras, Este Norte-Riograndense iniciou sua
trajetória musical muito cedo. Seu pai, Sebastião Pequeno era tocador de
violão e concertina, então, Elino logo cedo já animava as festas de
Sant'ana, na Cidade de Caicó no seridó potiguar. Como
vocês verão nos textos a seguir, todos eles com a devida fonte
citada, Elino teve uma grande do seu ídolo musical, o
paraibano Jackson do Pandeiro.
Tenham todos uma boa leitura, e boa semana!
Viva o são joão!
Viva nosso Nordeste!
Rio de Janeiro, 27 de Junho de 2016.
Hélio Santa Rosa Costa Silva.
Nascido em 1936, Elino Julião tinha crescido no sítio Toco, zona rural de Timbaúba dos Batistas, a quase 30 quilômetros de Caicó, a maior cidade da região do seridó. Além de cuidar dos bois e vacas de Hermógenes Batista de Araújo, dono de propriedade, Elino tinha outra atribuição: botador água. Rumava até um açude próximo e, com latas usadas para armazenar querosene, enchia os barris de ferro para depois carregá-los na canga do jumento preferido – e lá ia Elino tangendo o animal, assoviando e batucando na lata as músicas que tocavam na rádio Rural ou no toca discos de Luttgardes, esposa do proprietário da fazenda. Quando tinha que ir a bodega comprar fosfóros, voltava cantando os sambas e xotes que aprendera. Entre juremas e cantigueiras, desfiava o repertório de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Manezinho Araújo. Atravessa a caatinga a pé para ir jogar futebol na cidade. Sabedor do estrago que causavam os espinhos dos xiquexiques, preferia enfrentá-los de peito nu.
"O couro é mais fácil de sarar, a camisa dá mais trabalho por que tem que pagar uma pessoa para remendar".
Também ia a Caicó para ouvir as músicas entoadas na festa de Sant'ana. Aprendeu a cantá-las e agradou. De lá, passou a animar os bailes de Caicó Esporte Clube. Ainda adolescente, seguiu para Natal, onde soltava a voz no auditório da Rádio Poti. Participava com regularidade de programas como Domingo Alegre, de Genar Wanderley. Agradou tanto que, no dia de uma das apresentações, o alvoroço do público com Elino despertou a curiosidade da atração principal, Jackson do Pandeiro. Quando terminou de cantar, foi chamado no camarim pelo paraibano:
- Gostei de você, sujeito! Mas rapaz, que beleza! Que maravilha! Você tá bom que tá danado. Quer trabalhar mais eu?
- Quero sim.
- E alguma coisa lhe impede? Daqui vou seguir para o Ceará...
Elino, então prestes a completar 18 anos, lembrou que teria de prestar o serviço militar obrigatório, Jackson manteve o convite:
- É um ano só, não é? Então faça o seguinte:
você serve o Exército e quando acabar me escreve.- É um ano só, não é? Então faça o seguinte:
Assim foi feito. Quando terminou o serviço militar, avisou Jackson, que mandou chamá-lo. Passou oito anos acompanhando o pandeirista em shows e gravações, aproveitando a oportunidade de trabalhar com aquele que considerava um mestre, como explicou em 2005 a Alex de Souza, da revista Potiguar Brouhaha:
"- Ele foi meu mestre porque era completo. Era ritmista, bailarino, um operário do forró. … e eu gostava daquele bailado que o Jackson fazia, pulava que só um gato. Tinha uma ligeireza, uma ponta de língua fácil de dizer mil palavras por minuto. Luiz Gonzaga era perfeito no que fazia no estilo dele. Mas no meu era Jackson".
Enquanto batalhava para gravar um LP individual, Elino seguia emplacando composição na voz de outros nordestinos que também tentava a sorte no Rio e em São Paulo. Em 1966, Clemilda cantou “O forró da Coréia”, no LP Retalhos do Nordeste (RCA Victor), do tocador de fole Gerson Filho. Um ano depois, foi a vez do Pernambucano Sebastião do Rojão gravar Elino: “Dinheiro novo”, “Todo mundo quer”, “Rela bucho”. Na própria voz, conseguiu lançar o compacto do xote “Rabo do Jumento” (Disco Guarani), acompanhando por coral e violão:
Você disse que é brabo, Nascimento.
Você cortou o Rabo do Jumento.
Eu não quero pagamento, Nascimento.
Eu quero é outro rabo no jumento.
Ele entrou no seu roçado junto com ogado,
Comeu um pezinho de coentro
Nascimento, eu não quero pagamento.
Eu quero é outro rabo do jumento.
A música reúne todos os ingredientes do que o escritor e letrista paraibano Bráulio Tavares aponta como uma das maiores virtudes do repertório de forrós de Elino Julião: “A vivacidade alegre das canções feitas em cima de boas idéias.” Em artigo no Jornal da Paraíba, em 2003, Bráulio tece análise cuidadosa da letra de “O Rabo do jumento”. Destaca o poder de síntese (“história complexa narrada em poucas linhas”) do compositor e o fato de que, “como em toda boa canção, a melodia potencializa a letra: é triste e lamentosa”. O escritor chama atenção para o fato de que em alguns momentos, a melodia acompanha o protesto do autor, “mas cada estrofe se conclui retornando ao mesmo refrão monótono, inflexível, mesma letra, mesma melodia”. No fim, Bráulio Tavares da seu veredicto:
Grande Arte? Não sei, mas, por que não? Talvez não seja uma obra prima da MPB, talvez não seja um dos cinquenta maiores xotes de todos os tempos, periga não ser nem uma das dez melhores canções de Elino Julião. Mas Julgada pelos critérios de sua forma e de sua matéria, é uma canção que surpreende pela originalidade (alguém conhece outra sobre o mesmo tema?), agrada pela concisão, faz rir pelo absurdo da situação narrada: tem verdade social.
Graças ao sucesso de “O rabo do Jumento”, Elino ultrapassou a divisa estadual e chegou a Campina Grande. Compacto na mão, conseguiu oportunidade no programa O Forró de Zé Lagoa, de Rosil Cavalcanti (nos bastidores, conheceria a primeira esposa, Lucimar, com quem teria 4 filhos). Emplacaria ainda “Xodó do motorista” (regravada duas vezes no mesmo ano: por Jackson do pandeiro, no disco Aqui tô eu, e pelo sanfoneiro Zenilton, no LP Forró pra frente) e “Puxando Fogo”, despertando o interesse de Abdias: “A CBS botou o olho em mim e eu pertubei bastante ele (Abdias) naquele ano com esses sucessos: só deu na praça em 1971”. contou à Brouhaha. Já de gravadora nova, fez o LP Aquilo. Apesar de incluir três músicas de Antônio Barro, o disco empacou. A fotografia da capa, com Elino pouco à vontade, de terno, gravata e sapato social, também não ajudou. Mas, mesmo com o insucesso, o potiguar recebeu um conselho de Barros que se tornaria profético para o deslanchar da sua carreira:
- Elino. Você tem um vozeirão. Ficaria muito legal você cantando música romântica.
Enquanto isso, Abdias recorria o expediente que já utilizara em 1968: lançar dois cantores no mesmo disco, cada um deles ocupando um dos lados. Foi o que fez ao repartir as faixas do LP Agora tu pega e vira. Escuta que tu vai gostar: Jacinto Silva de um lado, João do Pife do outro. Alagoano de Palmeiras do Índios, Jacinto tinha começado a gravar em 1959, no Recife, pela Rozemblit, antes de chegar à CBS. Seus primeiros discos foram “Justiça divina”, “Chora bananeira” e “Aquela rosa” Era outro que admitia ter sido diretamente influenciado por Jackson, “Um senhor cantor”, como destacaria a José Teles, do Jornal do Commercio, em 1998:
Nunca mais vi o que vi Jackson fazendo. Você pedia para ele cantar uma música; se pedisse para ele repetir, ele repetia, agora com a divisão diferente. Eu canto a mesma música com duas divisões, mas Jackson consegui cantar com 3 divisões. A maneira dele dividir dentro do ritmo em um negócio.
Em 1972, Jacinto Silva dividiu com Elino Julião o LP Desafio. Na capa, os dois disputaram partida de sinuca. Ambos perderam o jogo: de novo vendas modestas. Dois anos depois, Abdias repetia o recurso, só que dessa vez trocou o parceiro de Elino: escalou Messias Holanda, outro egresso da Pau de Sebo, e lançou Dois sujeitos incrementados. A estratégia estava bem definida, como Messias recorda:
Elino é de Caicó, lá no Rio do Norte, voz segura, peito forte, humilde como ele só. Messias é cearense, natural de Fortaleza, canta bem que é uma beleza e nunca errou um dó. Temos um de cada lado, cada um no seu estilo, como a cigarra e o grilo, cantando sem misturar. Forró, merengue animado, carimbó, arrasta pé pra o povo todo escutar. Eu já ouvi e gostei, e agora posso afirmar que o disco está de lasca, tá quente, está o fino. E vocês vão comprovar, logo que o disco rodar com Messias e Elino.
O tiro de Abdias enfim acertou o alvo. Elino se destaca com “Cara de Durão” (Estás dizendo que sou eu. /Eu não sou, mas eu digo que tu és./ Eu pareço, mas não sou./ Faço que vou e não vou./ Tu não parece, mas tu és”, regravado em 1984 por Markinhos Moura) e Messias, mas ainda, com o xote malicioso “Mariá” (“Bota pouco pano nessa trouxa, Mariá./ Nesse tempo não tem água pra grastar./ Leve a colcha pra lavar”). O sucesso levou alívio ao cearense. Após anos de vaca magra, tinha chegado a hora de Messias saborear o banquete.
FONTE:
- Marcelos, C.;
Rodrigues, R. O FOLE RONCOU! UMA HISTÓRIA DO FORRÓ. 1ª
edição, Editora Zahar. 2012, Rio de Janeiro. Páginas 205-210.
Fonte: http://encantosdoserido.blogspot.com.br/p/elino-juliao.html
Elino Julião
Elino Julião nasceu em 13 de novembro de 1936, no quente sertão do Seridó, na cidade de Timbaúba dos Batistas/RN. Filho de Sebastião Pequeno, tocador de cavaquinho e concertina. Foi menino butador d'água junto ao seu estimadíssimo jumentinho “Moleque”, no sítio Toco.
Desde menino, Elino cantalorava batendo numa lata as modinhas que aprendia na festa de Sant'Ana em Caicó/RN. Na casa grande da fazenda, onde se reuniam os moradores da redondeza, Elino Julião fazia a alegria da rapaziada.
Costumava sair da fazenda descalço e a pé, rompendo 18km de caatinga para bater a famosa “peladinha” em frente à igreja de Sant'Ana na cidade de Caicó e articular-se, claro, para cantar na sede do Caicó Esporte Clube, no domingo à tarde.
Aos 12, saiu do Seridó e foi para Natal escondido no caminhão de Artur Dias, comerciante local. Na capital, foi morar com uma tia nas Quintas. E imediatamente, procurou espaço para sua música; o que encontrou no programa Domingo Alegre, de Genar Wanderlei.
Conseguiu espaço e reconhecimento cantando músicas de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e outros. Também freqüentou o animado Forró da Coréia, onde hoje é o Estádio Machadão, forró esse que o inspirou a compor um dos seus grandes sucessos: “O forró da Coréia”.
Em uma das suas apresentações no rádio, conheceu Jackson do Pandeiro, que o convidou a fazer parte de sua banda. Mas Elino tinha de prestar serviço militar e assim o fez. Após sair das Forças Armadas voltou a procurar Jackson, com quem foi morar e trabalhar no Rio de Janeiro.
Como ritmista de Jackson, se apresentou nas rádios, TVs do Brasil inteiro. Foi na casa de Jackson, que Elino compôs suas primeiras músicas. Gravando seu primeiro disco em 1961, na gravadora Chanticlê. Em seguida, Jackson o levou para a Phillips, por onde lançava seus discos.
Na Phillips gravou os primeiros sucessos: Puxando Fogo e Xodó do Motorista, que se transformaram em hits. Antes suas composições já faziam sucesso. Entre elas Rela Bucho, na voz de Sebastião do Rojão. Com o sucesso, foi convidado para a CBS (Sony), permanecendo por 23 anos.
Com o sucesso foi convidado para trabalhar em São Paulo , junto a Pedro Sertanejo, onde permaneceu por 6 anos, até se unir a Luiz Gonzaga, que o convidara para ser seu ritmista. Com o rei do baião Elino fica por três anos. E em 86, Julião e outros artistas do gênero saem da CBS.
Elino e Jackson do Pandeiro |
A verdade é que não dava para viver apenas de cantoria, por isso Elino garimpa informações para a então jornalista Raquel de Queiroz e vendia composições e encampa várias parcerias: Dominguinhos, Genival Lacerda, Jacinto Silva, Marines e Trio Nordestino são algumas.
Durante sua brilhante carreira, o forrozeiro Elino Julião se consagrou como um ritimista do São João. Entretanto, o que se pode perceber na sua vasta discografia é que Elino foi um artista de múltiplas faces, um cantor plural, que soube passear por diferentes estilos e ritmos, sendo intérprete de muitas letritas e também apresenta suas próprias composições. O tema preferido é mesmo o São João, mas também se destacam as composições sobre as mulheres, o amor e seu saudoso Seridó. Compilamos aqui algumas das obras musicais que mereceram destaque na voz de Elino Julião.
- O Rabo do Jumento / Siri..siridó / Xodó de Motorista / Meu cofrinho de amor / Na Sombra do Juazeiro / Puxando Fogo
Elino trouxe no sangue as raízes do autêntico “forró pé de serra”, registrou e divulgou a cultura e as tradições dos folguedos populares nordestino. A partir de uma vasta obra musical que inclui verdadeiros hino do forró.
Foi o próprio Elino que revelou em entrevista que o contato com a mídia radiofônica durante as vezes que saía do sítio para a cidade foi uma inspiração para iniciar sua carreira. Já em Natal, na rádio Poti, em programas de calouros, teve o primeiro contato direto com a comunicação de massa. Daí por diante foi inevitável o desenvolvimento do ofício devido ao reconhecido talento para cantar e desde então Elino seguiu figurando entre as personagens da grande mídia, junto aos demais expoentes da música nordestina.
Discografia do mestre Elino Julião |
Fonte: https://melnotacho.wordpress.com/2009/10/03/o-rabo-do-jumento-elino-juliao/
O rabo do jumento. Elino Julião
03sábadoout 2009
in Artigo de Bráulio Tavares(02.06.2006)
Nos meus estudos autodidatas de Filosofia, me deparo com uma questão insolúvel: como definir o que é Grande Arte e o que não é? Precisamos de critérios universais, como em qualquer definição filosófica que se preze. Mas é possível encontrar critérios estéticos universais para justificar por que razão considero “O rabo do jumento”, do recém-falecido Elino Julião, uma boa música?
Reza a lenda que Elino tinha um jumento que um dia, por descuido seu, invadiu o roçado do vizinho, um tal de Nascimento. Era um sujeito metido a brabo, que em represália puxou a peixeira e cortou o rabo do bicho. Quando Elino protestou, o cara ameaçou: “Cala a boca, senão faço a mesma coisa com você”. Mesmo não tendo rabo, Elino achou mais prudente se calar. Todo mundo nas redondezas ficou chocado ao ver o jumento naquelas condições, perguntou quem foi o autor da maldade, e Elino calado. O vizinho começou a ter remorsos. Um dia foi lá, e propôs a Elino pagar-lhe uma indenização. Aí o compositor saiu-se com a frase memorável: “Eu não quero pagamento, Nascimento. Eu quero é outro rabo pro jumento”.
Um episódio exemplar, até pelo grau de absurdo envolvido na ameaça (“Eu faço o mesmo com você!”) e no pedido final (“Eu quero é outro rabo pro jumento”). Platão e Aristóteles certamente elogiariam sua economia de meios. Tem uma função educativa e revelatória, equivalente à das fábulas animais de Esopo, aqueles episódios alegóricos típicos das pequenas comunidades rurais e pastoris. A canção tem poder de síntese (uma história complexa narrada em poucas linhas). Parece ter brotado espontaneamente (que letrista resiste a esta rima dada de graça pelo Acaso, “jumento/Nascimento”?). Como em toda boa canção, a melodia potencializa a letra.
É triste, lamentosa. Em alguns momentos, ergue-se para acompanhar o protesto do autor: “Veja pessoal, que mau elemento! Não sei se o animal é ele ou o jumento!”), mas cada estrofe se conclui retornando ao mesmo refrão, monótono, teimoso, inflexível, mesma letra, mesma melodia: “Eu quero é outro rabo pro jumento”. São três acordes sucessivos, implacáveis (no tom de lá menor, os acordes de fá maior, mi maior com sétima, e lá menor).
Grande Arte? Não sei, mas, por que não? Talvez não seja uma obra-prima da MPB, talvez não seja um dos 50 maiores xotes de todos os tempos, periga não ser nem uma das 10 melhores canções de Elino Julião. Mas, julgada pelos critérios de sua forma e de sua matéria, é uma canção que surpreende pela originalidade (alguém conhece outra sobre o mesmo tema?), agrada pela concisão, faz rir pelo absurdo da situação narrada. Tem verdade social, tem verossimilhança psicológica. O personagem-narrador é um “caba” teimoso, tipo Seu Lunguinha ou Seu Mandury, muito familiar ao público que ouve canções assim. Acham que estou tirando leite de pedra, companheiros? Oxente, faz mais de 50 anos que a crítica tira leite daquela pedra de Carlos Drummond, e ela ainda não secou.
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